Outlander - Nas Asas do Tempo  - Diana Gabaldon, Filipa Aguiar, Rui Augusto
Estes últimos meses, tenho evitado livros categorizados como violentos, porque acho que o que está a acontecer no mundo de hoje é horrível o suficiente, não me quero expor ainda mais a violência durante a leitura.

Neste caso, o "hype" em torno do novo programa de TV foi o catalisador para iniciar a leitura de Outlander. Antes de ler Outlander, eu deveria ter quebrado outra regra e ler comentários com spoilers, como eu fiz com o The Summer Garden por Paulina Simmons, um outro livro popular que eu não terminei, por causa de conteúdo semelhante.

Eu tive problemas com esta história desde o início: enquanto a premissa é intrigante, achei os primeiros capítulos enfadonhos e não achei a escrita ou o humor bons, mas a minha decisão em não terminar esta leitura surge depois de ler estas duas cenas :

-Não vou deixar que me batas- disse com firmeza, agarrando-me à coluna da cama.
-Ah, não? - Ergeu as sobrancelhas ruivas - Bem, vou dizer-se, rapariga, que acho que não tens grand escolha. És minha mulher, quer gostes ou não. Se eu quiser partir-te o braço, deixar-te a pão e àgua ou trancar-te num quarto por vários dias... e não penses que não me sinto tentado...podia, quanto mais aquecer-te o rabo.
(...)
E se eu não cooperar? - perguntei com a voz trémula.Ele apanhou o cinto e bateu-o contra a perna com um estalido desagradável.
-Então, terei de colocar um joelho nas tuas costas e espancar-te até me doer o braço e aviso-te já que te vais cansar muito antes de mim.


...

-Não!-exclamei,arquejante.-Pára, por favor, está a magoar-me! (...) As minhas coxas doíam com a repetição do impacto e os meus pulsos pareciam estar prestes a partir-se, mas ele manteve-se inexorável.


Para alguns leitores de romance, traição/adultério ou triângulos amorosos são deal-breakers, o meu é a violência contra a mulher. Eu leio livros com cenas de violência, mas tenho problemas quanto os autores romantizam estas ações e os seus intervenientes.

Não vou terminar de ler Outlander pelo facto da autora romantizar tanto a violência como o abuso sexual. É impossível para mim considerar este protagonista desejável ou equacionar qualquer redenção para o mesmo, ​​após as suas ações violentas.

Seria romântico sim, se em vez de bater, humilhar e violar a sua esposa, este "herói" desafiasse as normas sociais, mostrando um tipo diferente de comportamento em relação à mesma.

O facto de este tipo de comportamento ser considerado normal para os homens no século XVIII, não é um fator atenuante porque, na minha opinião, independente da época a que se refere, ter um comportamento violento não é romântico. Quando eu estou a ler um romance, é revoltante ver a violência doméstica e sexual identificada como uma expressão de amor.

Outlander é ficção histórica, mas, também é um romance, por isso, independentemente da definição ou contexto histórico, em romances, considero a utilização deste tipo de dispositivos de enredo, repugnante.